Estávamos todos na varanda. Lá fora, a escuridão abaixo das estrelas e que se estendia até nós. Dentro da casa, umas poucas lamparinas. Em volta delas, pequenas mariposas girando sem parar. Foi quando a menina gritou. Todos se levantaram, foi um grito agudo, alto, sentimos como um estremecimento. Lá fora, a noite densa pareceu avançar um pouco mais. A mamãe correu para a garotinha e tomou-a nos braços. Era abril, o calor erguia-se voltando ao espaço, como se um fluxo do chão para o profundo do desconhecido, e nem sinal de uma brisa, as árvores inertes e silenciosas. A menina apontou para dentro da sala. A mamãe tentava acalmá-la, balançando-a como se faz com crianças bem menores.
- São lamparinas e mariposas, querida. Veja como elas voam. Veja essa daqui, se afasta um pouco, e depois sempre retorna e choca-se com o vidro. Veja!
A menina tentou olhar para a mariposa por algum tempo e acompanhou o vôo em espiral. Mas logo desviou os olhos para mais lá dentro, para os cômodos além da sala, uma escuridão dentro da qual as lamparinas não alcançavam. E apontou mais uma vez.
- Traga-a para cá. – O papai levantou e estendeu os braços.
E ouvimos o segundo grito. Dessa vez, não agudo e nem curto. Foi como se não viesse daquela garotinha, como se de outro lugar ou de outra pessoa. A mamãe correu para fora com a filha agarrada fortemente aos braços, e chamou pelo esposo. Entre nós havia um médico, um parteiro, e logo foi socorrê-los, levando o dorso da mão ao pescoço da criança.
- Ela pode estar febril…
- Mas não está…
Aos poucos, num levantar-se, as visitas foram se despedindo do anfitrião. “Já é tarde; afinal, todos precisam descansar para amanhã”. Mas não era tarde, e haviam chegado há pouco. Mas foram-se todos.
O pai, segurando uma lanterna. A mãe, levando a filhinha, tampando-lhe os olhos. Levaram-na para o quarto.
Nem mesmo os que se foram para longe dali conseguiram adormecer antes do nascer do sol. Foi a mais longa das noites.
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