Eu o
empurrei e ele caminhou, uns passos meio sem jeito no início, se ajeitando no meio do caminho, tomando coragem para
abordar a mulher logo à frente. Quando chegou mais
perto dela, ela sorriu. A meu ver, não
tinha como ser diferente. Aquela mulher passara a noite inteira com os olhos
nele. Decerto que seu jeito era vulgar, a saia muita curta mostrando as coxas grossas, os cabelos eram pintados
de um loiro bem claro e artificial, sem falar na barriga, gordinha, de fora. Como eu vi que a
coisa iria andar bem, fui ao sanitário do bar.
Ainda por lá, ouvi uma gritaria e o som de vidro se quebrando. Corri. Um garçom agarrou-me pelo braço: - “nem vá lá” - disse ele. Logo em seguida, veio outro a me segurar. À frente, o meu amigo apanhava feio de três caras. Nem sei de onde apareceram. Que covardia era aquela, meu Deus, ficar assistindo a um amigo cair na porrada contra três homens fortes e especialmente violentos? Mas só quando os agressores correram, os garçons me soltaram. Fui olhar estrago. Começara a chover. O sangue escorria na calçada.
Ainda por lá, ouvi uma gritaria e o som de vidro se quebrando. Corri. Um garçom agarrou-me pelo braço: - “nem vá lá” - disse ele. Logo em seguida, veio outro a me segurar. À frente, o meu amigo apanhava feio de três caras. Nem sei de onde apareceram. Que covardia era aquela, meu Deus, ficar assistindo a um amigo cair na porrada contra três homens fortes e especialmente violentos? Mas só quando os agressores correram, os garçons me soltaram. Fui olhar estrago. Começara a chover. O sangue escorria na calçada.
X X X
Visitava o amigo quando podia. Ele passava boa parte do dia
numa cadeira-de-rodas, o olhar virado para o chão,
babando pelo canto da boca, e um babador preso na camisa. Não falava. Virou quase um vegetal. Olhando para ele, claro,
a minha culpa adquiria tamanho descomunal. Não
tínhamos pistas, o bar fechou,
os garçons disseram à polícia nunca terem visto aquelas tipos antes, e nem depois, nem mesmo a mulher. Mas
falaram que a briga parecia ter sido por causa dela, ciúme de um deles. E ficou nisso.
Não demorou muito e meu amigo
começou apresentar complicações nos rins e no resto.
Foi ficando a cada dia pior. Morreu pouco mais de dois anos após o incidente. Como eu dissera, o bar fechou.
X X X
Mas abriram um outro no mesmo lugar, outros donos, outro nome,
um lugar bonito mesmo, bem transado, e freqüentado
por jovens classe-média e jeito de rico. Apenas as músicas não diferiam muito, pois todos parecem
ouvir as mesmas porcarias neste mundo.
Mesmo com aquela sensação de peixe fora d'água, passei a frequentar. Nem sinal das mulheres de antes. Uma pena, porque sempre tive queda pela
vulgaridade. Essas do novo estabelecimento são muito limpas e metidas,
passam sem olhar para o lado, embora eu saiba que, junto aos rapazes do mundo
delas, são vagabundas como aquelas do outro bar.
Por sorte, conheci uma garçonete
de lá. Bonitinha . Ao contrário das clientes, dava-me atenção, sorria, era educada e gentil. E eu dava gorjetas. Assim, como se diz, na simpatia, trocamos os respectivos números de telefone. Depois, passamos a nos encontrar, no meu
apartamento, nas noites de segunda - era o dia de folga dela -, ou nos finais
de noite, quando ela saia do trabalho. Assim como as moças que freqüentavam o barzinho não davam a mínima pra mim, a garçonete queixava-se dos clientes, e dizia "eles nem olham pra gente, ou então pensam que somos putas, e há os que são muito grosseiros, querem
passar a mão. As mulheres
não passam a mão na gente, mas são piores."
Nessas nossa boas e animadas conversas, comentei, claro,
sobre o antigo bar e o que acontecera com meu amigo. Ela revelou que sabia de
tudo. Tudo mesmo. Além de ter lido no jornal, namorava um garçom
que era amigo de um daqueles garçons que estava trabalhando no
dia em que aconteceu a briga. E foi aí que comecei a entender as
coisas, mais ou menos, eu acho. Foi a coisa mais terrível que poderia ouvir sobre o que de fato acontecera. Fiquei assustado, enquanto ela fazia o relato com aquela sua voz doce, falava lentamente, num ritmo bem marcado.
Verdade ou não o que ela dizia, era bom o rosto dela recostado em mim. E a janela do quarto estava aberta,
deixando entrar o ruído bom da chuva que caia
suavemente.
Marco Antonio, 2013.