O taxista deu a volta correndo e abriu a porta do passageiro. De dentro saiu uma mulher carregando uma criança grande nos braços. Ela dizia, repetidamente, que o marido viria logo e pagaria a corrida, enquanto o taxista a ajudava a carregar a criança para dentro da clínica. Havia sangue escorrendo e ficou uma trilha vermelha no chão. Ao voltar, o taxista olhou para dentro do veículo e balançou a cabeça. Fechou a porta do passageiro, limpou as mãos numa flanela que pegou lá dentro, ajeitou o boné, cruzou os braços, deu a volta e entrou pelo outro lado. Estacionou o táxi embaixo de uma árvore e esperou.
Dez minutos depois, o pai chegou. Estacionou o carro meio atravessado e entrou correndo na clínica. Nessa correria, errou a porta, deu meia-volta e acertou o lugar. Meia hora depois, voltou com passos lentos e recurvado. Tinha um ar meio perdido, enquanto tentava localizar o táxi. O taxista colocou o braço pra fora e acenou. O pai tirou uma cédula da carteira e disse que ficasse com o troco. O taxista agradeceu e não quis perguntar nada, ligou o motor e saiu. O pai deu a volta, sentou-se num banco de ferro sob uma árvore imensa e começou a chorar.
Era um meio de tarde e o céu estava claro e muito azul. O vento arrancava flores das árvores e o piso do estacionamento estava cheio delas. Eram flores amarelas, flores daquela época; acontecia de ano em ano, um espetáculo bonito de se ver, as flores sendo carregas pelo vento. Mas o pai estava com os olhos voltados para baixo e só fazia passar uma das mãos na cabeça, indo da testa e descendo até o pescoço.
Do outro lado da rua, um grupo de mocinhas passou cantarolando e rindo - riam muito e alto e, mesmo quando já estavam mais afastadas, dava para ouvi-las em seus sorrisos e brincadeiras umas com as outras. Não antes de as risadas sumirem de todo, veio de lá um médico, um médico ainda jovem e muito alto. Ele aproximou-se do pai, sentou-se ao lado, no mesmo banco de ferro pintado de branco. Falou qualquer coisa pra começar, deu uma explicação rápida e simples e silenciou. Ficou ali por uns minutos e depois levantou-se. Nesse tempo, o pai não olhou para o médico, não teve coragem, nem disse uma palavra sequer.
Após o médico, veio uma enfermeira trazendo um copo d´água. Ele não notou a presença dela de imediato, deixando-a, sem querer, parada com um copo plástico na mão e sem dizer nada. Ele levantou a vista, limpou o rosto, deu um sorriso e estendeu a mão para pegar o copo. Uma flor pequena caiu dentro e ele a tirou com um dos dedos. A enfermeira esperou um pouco e afastou-se com uma flor amarela que pegara no chão.
Do outro lado da rua, um grupo de mocinhas passou cantarolando e rindo - riam muito e alto e, mesmo quando já estavam mais afastadas, dava para ouvi-las em seus sorrisos e brincadeiras umas com as outras. Não antes de as risadas sumirem de todo, veio de lá um médico, um médico ainda jovem e muito alto. Ele aproximou-se do pai, sentou-se ao lado, no mesmo banco de ferro pintado de branco. Falou qualquer coisa pra começar, deu uma explicação rápida e simples e silenciou. Ficou ali por uns minutos e depois levantou-se. Nesse tempo, o pai não olhou para o médico, não teve coragem, nem disse uma palavra sequer.
Após o médico, veio uma enfermeira trazendo um copo d´água. Ele não notou a presença dela de imediato, deixando-a, sem querer, parada com um copo plástico na mão e sem dizer nada. Ele levantou a vista, limpou o rosto, deu um sorriso e estendeu a mão para pegar o copo. Uma flor pequena caiu dentro e ele a tirou com um dos dedos. A enfermeira esperou um pouco e afastou-se com uma flor amarela que pegara no chão.
Foi quando veio um ruído grave que foi se tornando mais intenso a cada segundo. Vinha de cima, do alto, de trás do prédio da clínica, mais para o lado esquerdo. A enfermeira parou no meio do estacionamento e vasculhou o céu tentando encontrar a fonte daquele som potente. O pai levantou o rosto e limpou as lágrimas para enxergar melhor. A luz do céu intensamente iluminado o cegou por um instante. Mas logo ele pode enxergar bem e nitidamente. Foi quando apareceu, por cima do prédio, um pequeno avião de duas cores contrastando com o azul do firmamento, e puxando atrás de si uma faixa ondulante onde se lia em letras vermelhas: VILLA PALLADIO. COMPRE. SEU NOVO LAR.
Marco Antonio, 2014.