Pegamos
nossas coisas, pouca coisa, tudo de última
hora, jogamos no porta-malas do carro e ganhamos a estrada. Ainda era cedo,
muito sol no rosto, um dia bom pra viajar. Ligamos o som do carro e sorrimos
felizes. Ela dizia que seria nosso melhor final de semana em anos. Eu estava
acreditando no que ela dizia, tal era a expressão
em seu rosto - o sorriso aberto e franco, iluminado pelos olhos azuis muito
claros. Tinha uma pele branca, e as bochechas estavam muito rosadas, parecendo
uma pintura. Tocava uma coisa qualquer de uma banda inglesa, e o
carro ia bem. Estrada vazia e reta até onde se poderia ver no
horizonte. E fomos assim, até o final da tarde.
Atravessamos
uma ponte sobre um rio muito largo, caudaloso, imenso. E o fizemos em baixa
velocidade, enquanto admirávamos a bela paisagem, o rio abaixo, a
correnteza e sua força esmagando-se contra as
rochas.
Paramos
na primeira cidade que encontramos e procuramos uma pousada. Nos hospedamos com
facilidade, mas lá não servia janta. Fomos até
uma pequena pizzaria. Dali podíamos observar as pessoas divertindo-se no que parecia ser a praça principal.
Dominando o cenário, uma Igreja Matriz, alta e branca. À frente dela, crianças corriam de um lado para o outro. De dentro, vinha uma
cantoria que nos chegava quase inaudível.
Pedimos
pizza de uma mistura variada. Não tínhamos a menor pressa. A garçonete,
muito jovem, disse que estavam no Mês de Maria e logo a missa acabaria e
os fiéis lotariam a praça, mas não por muito tempo, quando
ficaria praticamente deserta. Sempre assim, ela disse.
Apreciamos
a comida. E ficamos por ali. E os casais, saindo da igreja, tomaram conta da praça e do seu belo jardim florido. As crianças para lá correram, pulando e gritando.
Os adolescentes permaneceram numa zona própria, próxima a uma lanchonete, irradiando aquela fase da vida. Aquilo era bom e divertido de se assistir.
Pouco depois, a praça ficou vazia. A pizzaria
fechou as portas, os bares também, e tivemos que ir embora,
quando começou a cair uma chuva fina acompanhada de um vento forte e frio. E as nuvens cobriram as estrelas.
No dia
seguinte, continuou chovendo. Choveu muito. Disseram que não poderíamos sair da cidade. Como não? - Rio, riachos, pontes, coisas assim. E ficamos, fomos
ficando. Os dias chuvosos se prolongaram, passando de mais de uma semana. Não havia como sair dali, é o que eles diziam.
No quarto, quase sem poder sair, assistimos a uma boa variedade de séries de TV e suas reprises. Numa noite, já um pouco nervosos e apreensivos, quando a chuva deu um pouco de trégua, nos arriscamos caminhar até a praça da Matriz. Não havia um pé de gente nas ruas. A pizzaria estava fechada, os bares, o mesmo com a lanchonete dos adolescentes. Havia terminado o Mês de Maria, pelo que ficamos sabendo quando voltamos para a pousada. A chuva voltou. E durou o dia seguinte inteiro.
- O que está havendo aqui?! - minha mulher gritou para o gerente da
pousada, numa dessas noites em que a chuva havia piorado. Ela desceu do jeito
que estava, vestida para dormir. Gritou e gritou de novo. Ele tentou acalmá-la, trazendo um copo d´água, meio sem jeito. Perguntou
se queríamos utilizar a sala de jogos. O coitado, diante da minha mulher, não sabia bem o que dizer.
Obviamente que ela estava nervosa, muito nervosa. Seu rosto estava pálido, a voz trêmula. Afinal, seu passeio
havia se transformado num pequeno pesadelo, trancada numa pousada do interior.
Sem respostas, ela subiu as escadas, em prantos. Desculpei-me perante o gerente, ao que ele
aceitou as desculpas gentilmente pagando um vinho.
No dia
seguinte, finalmente, veio sol. E muitos novos hóspedes começaram a chegar. Todos aparentando disposição, parecendo conosco quando
chegamos por lá, felizes, alegres, sorrisos abertos.
Pagamos e fomos.
Pagamos e fomos.
Em alta
velocidade, atravessamos a ponte imensa sobre o rio largo e caudaloso. À nossa frente, todos
os anos por vir.
Marco Antonio, 2013.
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